Embora saiba da importância e necessidade dos partidos políticos na democracia liberal, não faço parte e nem tenho nenhuma relação clubística com nenhum sistema partidário cabo-verdiano, sobretudo por considerá-lo ditatorial e adverso às liberdades individuais. É o que os fatos nos têm demonstrado. Por isso, voto quando achar pertinente e útil e abstenho quando nenhum dos candidatos me diz seja o que for, como foi o caso nesta última eleição. Isto, porém, não me retira o direito de participar no debate público ou é algum sintoma de iliteracia política. Ou mesmo de colaborar com o Estado (central ou municipal) sempre que haja uma convergência de interesses.
Sou daqueles que acha que a abstenção é um ato político consciente, malgrado uma boa parte daqueles, sobretudo jovens, que simplesmente não querem saber. Praia, nas duas últimas eleições autárquicas teve uma das mais altas taxas de abstenção do país. Entre 2020 e 2024 a taxa de abstenção no município teve uma diminuição de apenas 0,2% (de 55,3%, superior à média nacional que foi de 49,8%). É significativo e abrange muita gente que achou nessa postura eleitoral uma forma de protesto. É certo que o voto em branco é mais objetivo nesse particular, o que de 0,7% de 2020 aumentou para 1,3% agora, mas é preciso ter em conta a desconfiança de muitos praienses em relação ao voto em branco pela perceção (que muitas vezes não são meras perceções) que o seu boletim possa ser posteriormente preenchido por este ou aquele ativista partidário com acesso à urna depois do fecho do processo de votação.
Indo aos resultados em si, se em 2020 a diferença entre o PAICV e o MpD foi bastante renhida, uma diferença de apenas 2,4%, as eleições do último fim de semana foi completamente diferente, com Carvalho a ganhar com uma diferença de 26,4%. Mais do que uma vitória do PAICV e de Francisco, que foi em certa maneira (não devido a uma suposta boa governação), este resultado representa de forma geral uma rejeição à governação verde e ao seu candidato, apresentado como uma espécie de messias que vinha resgatar Praia de uma suposta “escuridão esquerdina”. Isto vindo de um candidato com um discurso tik-tok de promoção de um individualismo exacerbado e abraçando o perigoso pensamento lusotropicalista crioulo de negação do sistema esclavagista (contradizendo a fala de 2015 no trabalho de Joana Gorjão Henriques - aqui).
Sobre a crítica ao processo de seleção dos candidatos deixo para as gentes do partido, que pouco me importa. É preciso, todavia, ter em conta que há muitas pessoas na Praia que nem sequer votam normalmente no PAICV e até simpatizam com o MpD, mas que nunca perdoaram Vicente pela sua atitude em relação ao AME e sua afirmação sobre o Carnaval da cidade capital.
É curioso dar conta que uma das suas frases fortes de campanha era de que Carvalho não tinha legitimidade política por ter vencido com menos de 18 mil votos em 2020. A piada é que não obstante a blindagem na última hora da classe governamental e o discurso de que Praia tinha de ser retomado a qualquer custo, mal conseguiu alcançar os 16 mil votos de Óscar em 2020, não obstante a situação preocupante que Praia se encontra em termos de governação municipal.
Sou daqueles que acha que a abstenção é um ato político consciente, malgrado uma boa parte daqueles, sobretudo jovens, que simplesmente não querem saber. Praia, nas duas últimas eleições autárquicas teve uma das mais altas taxas de abstenção do país. Entre 2020 e 2024 a taxa de abstenção no município teve uma diminuição de apenas 0,2% (de 55,3%, superior à média nacional que foi de 49,8%). É significativo e abrange muita gente que achou nessa postura eleitoral uma forma de protesto. É certo que o voto em branco é mais objetivo nesse particular, o que de 0,7% de 2020 aumentou para 1,3% agora, mas é preciso ter em conta a desconfiança de muitos praienses em relação ao voto em branco pela perceção (que muitas vezes não são meras perceções) que o seu boletim possa ser posteriormente preenchido por este ou aquele ativista partidário com acesso à urna depois do fecho do processo de votação.
Indo aos resultados em si, se em 2020 a diferença entre o PAICV e o MpD foi bastante renhida, uma diferença de apenas 2,4%, as eleições do último fim de semana foi completamente diferente, com Carvalho a ganhar com uma diferença de 26,4%. Mais do que uma vitória do PAICV e de Francisco, que foi em certa maneira (não devido a uma suposta boa governação), este resultado representa de forma geral uma rejeição à governação verde e ao seu candidato, apresentado como uma espécie de messias que vinha resgatar Praia de uma suposta “escuridão esquerdina”. Isto vindo de um candidato com um discurso tik-tok de promoção de um individualismo exacerbado e abraçando o perigoso pensamento lusotropicalista crioulo de negação do sistema esclavagista (contradizendo a fala de 2015 no trabalho de Joana Gorjão Henriques - aqui).
Sobre a crítica ao processo de seleção dos candidatos deixo para as gentes do partido, que pouco me importa. É preciso, todavia, ter em conta que há muitas pessoas na Praia que nem sequer votam normalmente no PAICV e até simpatizam com o MpD, mas que nunca perdoaram Vicente pela sua atitude em relação ao AME e sua afirmação sobre o Carnaval da cidade capital.
É curioso dar conta que uma das suas frases fortes de campanha era de que Carvalho não tinha legitimidade política por ter vencido com menos de 18 mil votos em 2020. A piada é que não obstante a blindagem na última hora da classe governamental e o discurso de que Praia tinha de ser retomado a qualquer custo, mal conseguiu alcançar os 16 mil votos de Óscar em 2020, não obstante a situação preocupante que Praia se encontra em termos de governação municipal.